quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Navego-me longe pela vela da memória.





Aporto-me em campo de ourique. Revejo a Rosarinho de olhos azuis, alta e magra, viva, aberta para o mundo, de uma simpatia espontanea e natural, sem vaidades, no seu papel de anfitriã. A Teresa Paula, morena, de mais silêncios, calmamente segura. A Bé, risonha e querida, ternurenta.

Tardes de 5ª feira de sol, na minha vida sombreada. O rio lá longe, cigarros fumados à rivelia, a música da primeira, trazida dos e.u.a onde o pai trabalhava, a tertúlia das miúdas, todas tão diferentes entre si.



Da Rosarinho guardei as cartas, durante anos a fio; quase juro que sou capaz de possuir uma ou duas, das cartas escritas nos nossos verões, nas nossas ausências na vida da outra. Traziam-me um mundo novo descrito em papel, o mundo visto pelos seus olhos, quando, para matar saudades do pai passava parte do verão na Califórnia, e depois já regressada, esperava pelo recomeço das aulas, perto do guincho, em casa da avó. Os nossos primeiros amores ali contidos nas folhas que enchiamos tão rapidamente, que o correio era quase diário, as nossas esperanças, as nossas descobertas, as nossas melancolias...



Consigo recordar-me da sua expressão divertida, contando do seu primeiro amor , um Peter louro, que tinha uma vespa, lindo; como decerto ela se recordará da minha expressão sonhadora, falando do "Piu" que parecia por fim reparar em mim, mas tão distante, à distância de um rio que eu ainda não sabia navegar.



Nessas tardes de sol, ainda com a vida a espreguiçar-se em nós, impunhamos temas para debate.



Debatiamos a liberdade conquistada ainda ontem, debatiamos o amor, livre ou condicionado, o divórcio que tinha acontecido aos seus pais, com a máxima educaçao e sem que nenhum, alguma vez, tivesse infringido uma regra que fosse, a morte do meu pai, o meu futuro ameaçado, o relógio sempre a lembrar-me do cumprimento do dever de partir, debatiamos o futuro neste país, o passado deste mesmo país. Debatiamos a Igreja e a doutrina. Debatiamos o que esperavam de nós, o que exigiam de nós, os limites impostos pela sociedade, os muros que saltariamos pela ansia de saber e descobrir. Os que nunca saltariamos, os que não nos víamos a saltar.

Até que um dia, fomos ao quarto do seu irmão, buscar um qualquer disco, que se impunha ouvirmos, naquele momento, chegadas que eramos a uma qualquer verdade mais ou menos absoluta, -tinhamos 15 anos ;)


Na parede, sobre a cama estava um pequeno poema.


Tenho-o trazido comigo, em memória, ao longo destes mais, de 30 anos.
Ontem à noite, lembrei-me pela primeira vez de o procurar.
E encontrei-o.

Quando o vento sopra daquela forma que parece conter-me na minha caminhada, quando sinto a fúria da injustiça ou da revolta , tentar ganhar terreno dentro de mim, procuro a calma e a serenidade que o poema de Rudyard Kipling proclama...

IF you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or being lied about, don't deal in lies,
Or being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise:


If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two impostors just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build 'em up with worn-out tools:


If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breathe a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: 'Hold on!'


If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with Kings - nor lose the common touch,
if neither foes nor loving friends can hurt you,
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man, my son!


Perdi no entretanto o endereço da Rosarinho, num tempo em que ainda não existiam telemóveis.

Reconheci a sua letra, um dia, numa ficha de trabalho e telefonando-lhe entre risos, soube-a de regresso a Portugal.

Num dia de saudade, anos depois, através de uma tia, que mantinha o telefone, o apelido e o bairro de Lisboa, voltei a sabê-la bem.

Por fim uma noite, à porta do Amoreiras, o encontro surpresa, o abraço mútuo, autêntico.


Além do seu sorriso, do brilho do azul dos seus olhos, de uma ou duas cartas, que, quase juro, conseguirei encontrar entre outras reliquias, guardo ainda estas palavras, como exemplo de uma forma de vida...humanamente, quase impossivel...

domingo, 3 de agosto de 2008

Foi no decorrer da minha segunda relação, que me libertei um pouco da figura autoritária e castradora da minha mãe. Libertei-me no terreno, porque interiormente continuava a sofrer com o que ela me dizia, com os seus comentários infelizes, com a amargura que de ano para ano, via aumentar dentro dela. Foi no decorrer dos meus trinta anos, que percebi a chantagem emocional a que ela me submetia, que percebi que ela não admirava as minhas pequenas grandes vitórias, que nao agradecia as minhas pequenas grandes dádivas, porque tudo era nada, já que eramos tão diferentes; que ela não tentava perceber quem eu era, antes, crucificava-me por ser tão diferente dela, usando sempre a censura corrosiva do "não vales nada" e "não sabes fazer nada".

Ainda hoje continua a ser irónica perante as minhas diferenças, mas já não me leva ao desespero desses anos passados.

Foi também durante a minha segunda relação, que a minha carreira, cresceu prospera, trabalhava feliz por, com certa regularidade me darem funções diferentes, ter a oportunidade de aprender novas matérias; sentir a rsponsabilidade de crescer e usar de forma consciente eeficiente o espaço de acção que me iam permitindo, não me afectava de modo algum negativamente. Lidava bem com o stress, com os prazos. Mudei metodologias de trabalho, de forma a responder ainda mais eficientemente, eu era um peixinho feliz nadando num oceano de ideias, conceitos e evoluções, ao lado das pessoas certas para levar os desafios que eu propria me impunha a bom termo.

Foi também durante essa minha segunda relação, que possuí um barco que me dava asas e através do qual conheci a sensação impar dos cabelos ao vento, a descoberta das águias no seu habitat, as horas de contemplação, quando ao fim do dia fugia de todos e ia ter a minha hora magica.

Foi também no decorrer dos meus trinta anos, que consegui criar o jardim encantado da minha vida e projectar arcos que sombreavam o lago de karpas rodeado de avencas e papiros.

Gostava de trabalhar a terra, sentir os torrões liquidificados sob a rega, ver as flores desabrocharem, os peixes nadarem felizes no seu espaço, o meu cão ladrar feliz tincando a bola de brincar, as minhas filhas ao meu lado, crescendo com as irrequietudes próprias da idade e dos tempos.

Talvez por possuir tantos campos de trabalho onde podia _e devia_ usar a minha criatividade e retirar das minhas varias actividades o oxigènio salutar, aliado sempre ao meu vicio de leitura, não dei como findo o casamento, quando as coisas começaram a correr menos bem. Lutei pela visao de novas perspectivas, pedi às miudas o dom do perdão por sabe-lo inserido num quadro de doença e fruto de desgosto, frustraçao e amargura.

Contudo, mais tarde, retirado das horas que passei de joelhos, tratando dos canteiros, vim a perceber um sabio ensinmento, que na altura me passou ao lado: quando um ramo se parte e se mantem unido por um nadinha apenas, mais vale separá-los e deixa-los crescer individualmente. Criarão novas raizes e fundamentos. Se contudo o mantivermos danificado, a ponta, morre seca.


Assim, quando o meu segundo marido, anos depois, morreu, eu morri com ele.

A que eu era, morreu.

Nada do qu eu tinha feito por altruísmo e amor me tinha levado a um porto de abrigo.
O vaso deixado por ele, tinha terra que não faria crescer nada, seca e sem alimento.
Terra amarga.

E foi aí, que uma nuvem que andava no céu, vendo-me tão desalentada, desceu e ocupou a minha cabeça, para eu não pensar mais naquilo...até que o tempo resolvesse a questão.

É a única explicação que encontro para o que se passou depois comigo: uma nuvem.

Foi através dessa nuvem que aprendi a palavra desapego.

Foi atraves dessa nuvem que aprendi a palavra coragem, foi atraves dessa nuvem que vi os seres que me cercavam.

Visão aterradora de cobiças e enganos.

E a nuvem conforme eu ia caindo de quatro perante as revelações do tempo me ia fazendo subir de novo para que o naufragio não fosse completo :)

Foi assim, que passados três anos, atraída por um lado cheio de vida e alegria de um ser humano, me senti com alento para ajudar o outro lado desse ser, que também parecia envolto numa nuvem, ao que ele contava, por injustiças várias.

E estava de facto.

Mas enquanto a minha parecia passageira a dele adensava-se.


E assim um dia a nuvem se foi e fiquei perante um desgosto, que era a soma de todos os desgostos, de um luto que era a soma de todos os lutos: os homens que tinham traído a minha verdade, a mulher que me não tinha amado da forma como eu era, a vida que eu construira e que outros cuidavam de destruir.

Não senti ódio neste trajecto, embora a revolta falasse alto.

O gritar da injustiça não pressupõe ódio, clama apenas por verdade.

Foi assim, que um dia, me lembrei do ensinamento dos pés partidos das alegrias da casa, e aceitei essa verdade dentro de mim.

Perceber o sentido de uma vida, demora uma outra vida.

Estou, com ambos os pés no chão e de céu limpo na cabeça, a entrar na meta final da mnha vida.

Agora sei que a mentira existe, que muitasvezes no seu intimo as pessoas são mesquinhas, tolas ao ponto de confundirem bom coração com falta de inteligêcia.

Tolas ao ponto de confundirem silencio com vazio.

Sei que não posso mudar o mundo, nem mudar mentalidades.

Sei que há pessoas que dão mais valor às casas do que aos outros que lá vivem e que são capazes de pactuar com o diabo em troca de uma boa imagem ou de uma benesse do destino.

Sei dos egos e dos alter egos. De necessidades e de carencias.

Sei das leis da sobrevivênca e dos casamentos de aparência.

Aprendi sobre a loucura, o medo, o poder, a agressão, o riso falso, o egoísmo e o amor.

Aprendi sobre limites territoriais, sobre metamorfoses, sobre emocões e razão.

Aprendi sobre o prazer de viajar, conhecer novas culturas, religioes, credos, praias e montes.

Aprendi na medida em que me entreguei à vida e já vivi muito, às vezes lembro-me das sete vidas do gato...


Sinto que se ainda aqui estou parada a escrever, é apenas porque o comboio ainda não chegou a este cais.


Mas sei porquê.

Ainda me falta dominar a arte da paciência.



:)
Um amor como o primeiro.

Nasci simples. Lembro-me pelo recorte das tardes soalheiras, que na minha essencia nada mais havia que simplicidade. Só depois é que me complicaram. Com o meu nascimento acendeu-se na minha mãe, a depressão, a angústia, de ter perdido 10 anos antes o seu primeiro filho. Fui ensinada a ser a sombra do meu irmão. Não podia correr. Não podia brincar. às sombras nada de mal lhes acontece e assim a minha mãe, me via protegida de um destino de morte subita. Julgo que todos à minha volta, percebiam perfeitamente o que se passava com a minha mãe, porque todos (tios, tias, amigos, pai) a censuravam de vez em quando: deixa a miuda brincar! Salvaram-me os primos, quando nos visitavamos semanlmente, os livros que eram a forma mais inofensiva de passar o tempo e confesso, a minha critividade com o lápis, com o qual desenhava centenas de bonecas todas elas gozando de uma grande liberdade de acção. Mesmo assim, parti candeeiros e canecas, cheguei a casa coberta de tinta, num tempo em que as carteiras da escola tinham tinteiros, arranhei joelhos, parti inumeras vezes as lentes dos óculos e sobrevivi à fractura de um braço.

Não me sentia infeliz, apenas presa. Presa a uma mãe que não nadava para fora de pé.

Por isso, aos fins de semana, soltava-me pelas mãos do meu pai, que me levava ao cinema, aos jardins, à praia, às livrarias, à cervejaria a comer um prego e à Central da Baixa para comer um bolo e que...claro! nadava para fora de pé, comigo no seu encalço.

Os meus pais amavam-se imenso. Tinham um casamento feliz, uma relação baseada nos valores tradicionais, amor, fidelidade, confiança, respeito. Nunca ouvi um grito, nem uma manifestação de azedume em qualquer um dos rostos em relação ao outro. Normalmente as chatices aconteciam por minha causa, como a minha mãe, depois me explicava, culpando-me porque os tinha feito discordar. Ou porque eu não fazia o que ela me pedia, ou porque eu lhe respondia "torto" ou porque eu...qualquer coisa.

Reponder torto à minha mãe, significava que eu não lhe dizia "sim, mamy" mas que lhe manifestava o que eu pensava sobre aquela proibição ou sobre aquele raspanete que ela me dava. A minha mãe, habituada que estava ao silencio submisso do meu irmão morto, nunca reparou que a sombra procurava o sol. E nunca descobriu que eu tinha direito ao sol.

Tinha ficado maternalmente presa ao seu primeiro filho, como imagem de perfeição.

O meu primeiro amor, o que nutria pelos meus pais, tem duas vertentes, complexas: "fugir" de quem não me via e compreendia e me prendia na sombra e entregar-me sorridente e com confiança a quem me dava novos caminhos a descobrir, novos ensinamentos, evolução.

E tem sido assim toda a vida. Procurei um homem que me visse, como realmente eu era e fugi dos que me quiseram à sombra, domesticada e obediente, sem por em causa o que os movia.

É linear: procuramos o "pai" e acabamos por encontrar a "mãe".


A minha primeira relação, durou 1o anos, a segunda, 13 e a terceira, 4.

Se as duas primeiras foram coroadas pelo meio, com um casamento, a terceira dispensou esse ritual.

Depois da morte do meu segundo marido, uma nuvem ocupou a maior parte do meu ser pensante. Vivi -sei-o bem- com essa nuvem até há 9 meses atrás.
Até que, pela força do vento, ela se afastou e tudo ficou mais claro.


Até em relação à minha mãe: já não tento explicar-lhe nada, nem fazê-la compreender o percurso da sombra, tarde demais para palavras, aconchego-lhe o casaco de malha ao corpo, dou-lhe um beijo e levo-a pelo passeio do sol.

E mais uma semana se passou, treino intensivo de paciencia, confesso que estou a envelhecer, já não sofro por amor... :)

quinta-feira, 31 de julho de 2008

O esquecimento era apenas esperança minha.


A sms irrompe já noite tão madura que julgo portadora de ma noticia.

Dizia vir de marrocos, país que influenciei a visitar. Dedicava me ainda um por-do-sol.


Se até ali tinha apenas desconfianças que me lia a outra margem, naquela noite tive certezas.


Irritação.

serei mais uma a assombrar-lhe a vida. serei mais uma a continuar pendurada no seu cabide de memórias. para o pior e o melhor. Nunca quis que tal acontecesse. Não troco sms de simpatia, não alternei de "malvada" para "amiga", alias nem troco sms a não ser para asuntos de seriedade comprovada. Porque então tentar ao fim de tantos meses, contacto, motivo de mudança da minha parte?

irritação de não perceber o pensamento alheio, o que pretende, que água traz no bico.

brinco com lagartas, chamo gaivotas.

fujo pela musica e de repente, penso: nem que a outra margem desapareca, eu desapareço.

julgar-me-á saudosa? teriam os meus por do sol lhe transmitido alguma mensagem?

então, hoje aventuro-me a colocar lá uma estorieta de quem povoa os seus dias.

Não sei se resultará, não quero ser lembrada, nem para o pior nem para o melhor.

gostava de er um caso resolvido, como de resto para mim, é.


E no entretanto, viveram-se outros blogs e outros posts, dançou-se e dormiu-se sobre a inquietação de a um mês de escritura me dizerem ah afinal não tenho dinheiro para comprar a sua casa...se baixasse o preço...e eu não baixo, agarrada a um contrato promessa de compra e venda. desconfio de bluff, é com já me disseram, veem uma mulher sozinha e tentam ganhar com a situação. E de novo a irritação: nenhum homem tratará melhor do que eu dos meus interesses. Eu não preciso de um homem para vender a minha casa. Isto é um atentado. Aguardo noticias.
Só a mim me acontecem destas tretas.


Saio para a Fnac em busca do Cesariny, não encontro o aconselhado, semi deito-me a ler As Mãos na Água, a Cabeça No Mar, quando dou por mim já é quase noite, corro para casa da minha mãe, onde vou jantar.

Chego cansada, durmo cansada, amanha logo se vê.

E espero que o telefone toque e que a corda bamba se erga firme.


Sem homens a impor o respeito. Ou quererão ver-me vestida do avesso?

:)

terça-feira, 15 de julho de 2008

Gosto da quietude deste lugar esquecido.


Onde os silêncios ecoam berberes pelo cetim da pele.


E os ventos vivem sem norte.



Estrangeira de mim, nómada serena.
Breve apontamento sobre livros e leituras.


Há uns anos atrás, aquando da minha segunda mudança de casa (a primeira tinha sido de casa da minha mãe, para aquela) desabafei com a minha filha, perante o universo de livros a transportar:

- Li demais e vivi de menos.
Olha este abuso de livros! Que carrego!


Hoje sei que levar connosco, vidas já vividas e passadas, tem um peso significantemente maior.


Antes da mudança, é imperioso limpar as estantes dos anos...

E deixar entrar a luz do presente nos sotãos da memória, onde só se deve entrar, para retirar lições e força para o futuro...

domingo, 13 de julho de 2008


Gosto de ler e, actualmente, muito do tempo que tenho é investido na leitura.

Depois de ter lido as Deusas em cada mulher, li a Soma dos dias de Isabel Allende e, a paginas tantas, descubro que a Isabel (allende) também gostou de ler as "Deusas" e que adorou conhecer a sua autora, de quem, de resto, ficou amiga.



Nessa pagina, dei -me ao luxo de parar a leitura e olhando o rio cheio de reflexos, sentir dentro de mim uma alegria espiritual que me elevou durante momentos, derivada da coincidência dos factos. Há muito que eu acredito que "estamos ligados por fios invisiveis" neste universo de energias e luzes, e, sabê-las amigas, a mim que me considero leitora leal e admiradora das suas escritas, da escrita de ambas, ali tão pequena, ali tão grão de areia, sentada numa esplanada qualquer, de uma cidade que, quem sabe, nenhuma delas conhece, à beira rio, fez-me sentir menos só, na caminhada que trilhava nesse mês de abril, de surpresas mil.





Depois disso, descobri um Mia Couto pujante em Terra Sonambula, chegaram Os cadernos de Dom Rigoberto, e depois, apanhei mesmo a jeito, a Brincadeira de Milan Kundera e há três dias atrás, O livro do dessassossego, de Fernando Pessoa, que me lembro, quando o comprei, ter guardado para um tempo, que sabia haveria de chegar, mais cedo ou mais tarde.



O tempo chega sempre a tempo e felizmente vou reconhecendo os estados de espirito que me vestem e muito embora, não consiga ler vários livros ao mesmo tempo, o que considero uma admirável proeza, gosto de ir diversificando na escolha.





Mas voltando ao livro do desassossego, não consigo resistir à tentação de deixar aqui, esta breve passagem, por razões de alma.



"Desenrolo-me como uma meada multicolor, ou faço comigo figuras de cordel, como as que se tecem nas mãos espetadas e se passam de uma criança para as outras. Cuido só de que o polegar não falhe o laço que lhe compete. Depois viro a mão e a imagem fica diferente. E recomeço.

Viver é fazer meia com uma intenção os outros. Mas, ao fazê-la, o pensamento é livre, e todos os principes encantados podem passear nos seus parques entre mergulho e mergulho da agulha de marfim com bico reverso. Croché das coisas... Intervalo... Nada...

De resto com que posso contar comigo? uma acuidade horrivel das sensações, e a compreensão profunda de estar sentindo...Uma inteligencia aguda para me destruir, e um poder de sonho sofrego de me entreter...Uma vontade morta e uma reflexão que a embala, como a um filho vivo...Sim, croché..."


Pedi à minha mãe que me ensinasse a fazê-lo muito pequena.

Gostava dos quadradinhos com rosas que lhe saiam das mãos, gostava dos losangulos cheios, que contrastavam com os triangulos vazios. Gostava da infinita possibilidade de desenhos que se poderiam criar. Gostava da textura da colcha branca de linha, pesada e austera, quando me deitava. Aos 10 comecei a fazer a minha manta de retalhos, sem retalhos, com lãs de várias cores, que iam mudando, conforme o animo ou a cor da moda. Aos 14, durante a convalescença da hepatite que apanhara, dei um grande avanço na manta, mas não foi suficiente.

Assim, a minha manta, que nasceu na minha infancia, passou a ser manta das convalescenças e só veio a terminar quando eu já tinha perto de 3o anos. Mais do que significar a "manta da minha vida", a sua confecção, veio a ensinar-me o quanto era libertador e calmante, o "fazer meia", de que Pessoa fala.

O deixar soltar o pensamento, o acalmar do coração, o serenar do desassossego, tudo isso era possível e rápido, desde que os dedos estivessem entretidos na agulha e nas lãs...

Ao longo da última década, em fases de confusão ou quando muitas coisas acontecem ao mesmo tempo, corro para a primeira loja de lãs que encontro, em busca do meu tempo de "fiar".

Sei que entre a primeira hora de laçadas e a última, tudo dentro de mim serena, ponderando nas escolhas, analisando os caminhos, recordando outras cores e fugindo de certos formatos.



Como é que Fernando Pessoa descobriu o pensamento da tecelã?

Quem teria sido a tecelã de Pessoa?


Em que momento da sua vida fez a analogia entre a vida e o crochet, como eu, tanto faço?

...e embora os intevalos façam render o trabalho, são os cheios, que mais nos enchem de brilho e mais aquecem o inverno. Croché da vida, croché dos dias...


...e volto à leitura...

6ª feira, a Prozac reservou a noite para mim.

Fiquei contente. Amiga de toda a vida (herdamos-nos à nascença), com um tempo super ocupado, mãe de dois filhos, raramente consegue tirar uma noite, para curtir os amigos.


Se eu nunca fui hippie por falta de tempo, ela foi-o, durante anos.

Foi, assumiu que era e aos 30 e tal anos, foi deixando de o ser, devagarinho e sem perceber que já não era...

O ter sido hippie para ela, é um manancial de histórias, de situações, de pessoas diferentes que foi encontrando ao longo de uma década, que lhe deram, aquela forma de ser diferente, aquela graça que passou a ser uma das suas caracteristicas...

Sem graça fica ela, quando, actualmente, encontra uma peça de roupa fora do sitio, uns pratos espalhados, umas migalhas no chão...também ela domesticada pela vida e pelas casas, pelos concretos e pelos cimentos, a pulso e com esforço, escandalizou-me quando, este inverno, ao convidá-la para vir comigo fazer uma caminhada à beira mar, me respondeu que era coisa que não a seduzia, que só gostava de andar na cidade, na correria do dia a dia.
Que era decididamente uma mulher de asfalto.

E 6 feira, la fomos pelo asfalto, até à Fab.Polvora, beber um café ao som da Orquestra Sete sois e sete luas, com a alegria de termos também, ao nosso lado, o seu amigo C., que eu ja não via há séculos!

Mantêm-se igual o C., afável e conversador, sem reservas e sincero, nos seus quarenta e tal anos joviais, que me disse logo, estás mais magra e não te fica bem, conto-lhe das caminhadas e explico que não faço nada para emagrecer, como que nem uma "selvagem" à noite, todas as noites saio vencedora da guerra com o chocolate, que cai no meu estomago, completamente aniquilado, literalmente mastigado por mim.

Ele ri-se e encolhendo-se de frio com a aragem do vento, convido-os a descerem e a continuarmos a conversa em minha casa, afinal ele nunca cá tinha vindo!

Admira-se com as áreas, cai de joelhos aos pés do piano, não ha ninguem que não goste dele, do piano e do "C", que me diz "quando mudares vais sentir a diferença" e eu confirmo-lhe que sim, que adoro o sitio e acordar com os passaros, ver os melros voarem e as andorinhas chegarem, ouvir o murmurio da ribeira e estar a minutos do mar, mas que também vou gostar do outro lado da liberdade, a da cidade, dos cinemas a dois passos e do yoga a 4 ou 5 quarteirões, rindo-me, confesso-lhe esta minha ambiguidade de sempre, os dois sentidos que embora divergentes, em mim se mantêm paralelos, o ser hippie por dentro e por fora usar um tailleur, o ser "certinha" por dentro e por fora manter um cabelo solto e desalinhado...

Ele percebe o quero dizer, lembra-se de mim, anos antes, com uma nuvem na cabeça ou com a cabeça nas nuvens, a vida a explodir em todos os sentidos e eu a implodir na ambiguidade de ser assim, hippie e certinha, tailleur por fora e túnica de algodão doce, por dentro.

Quem me vê hippie admira-se com a mulher de principios pluralistas, quem me vê pragmática espanta-se com a livre pensadora.

Conto-lhes que quando mudar, vou continuar a vir cá, vou organizar a minha semana de forma a satisfazer todas as frentes do fogo que me consome, a eremita e a que não se quer isolar, a pensativa e a que gosta de estar com os amigos, a fragil e a forte, a sonhadora e a que se não deixa enganar (muito).


A que se entrega e a que mantem um plano B, a que chorou porque não queria sentir a obrigatoriedade de ter um plano B para a vida e a que se sentiu feliz por ter um plano B para pôr em marcha, a que escreve e a que não liga aos seus escritos, a que ama e a que deixa de amar, quando não encontra lógica no amor que a guia.


A que neste momento diz, está na hora de te banhares e a outra, a outra que dentro de si, sente as palavras, sem quase pausa, brotarem dentro de si.

Mas ambas são uma apenas. Eu.

Espero ter a arte de saber fazer crescer una e em harmonia esta massa de ambiguidades de que sou feita...

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Hoje dei por mim a divagar, que se na minha juventude não me fiz hippie, foi porque não tive tempo...

Tudo começou com um tópico ligeiro de conversa, sobre juventudes inquietas...


A conversa, porque eu estava de saída, acabou logo por ali, mas depois, a caminho da minha cidade, fui reflectindo na minha própria juventude...


Amante de espaços abertos, de violas à volta de fogueiras na praia à noite, do toque doce das cambraias e algodões das túnicas, cabelos longos soltos ao vento, de livros que me levavam para outras paragens, com horizontes bem mais largos, que outro caminho me restaria?

Até por uma questão de pele. Só a ganga me trazia conforto.

E foi então, que o meu pai faleceu.

Tingiram-se as gangas de preto, perante a minha recusa de outro toque, tingiu-se o tempo de outras tarefas, de outros tons, o meu universo...

Um ano depois, a minha mãe chega a casa com um sorriso, vais entrar para o banco.

Vestem-me uma saia, que me pica nas pernas, calçam-me umas sandálias que me desequilibram, prendem-me os cabelos...és uma mulher!

Mãos suadas, onde vou usar o che guevara que trago ao peito, mãos suadas, onde vou fumar às escondidas?

Quando volto às matinés de 5ª feira com as minhas colegas? quando volto a ver o meu liceu? quando volto a ser eu?

Confundo-me comigo própria, não me reconheço no espelho e contudo, todas as manhãs me visto, me penteio, corro para o autocarro. Sou eu que fumo fechada na casa de banho, sou eu que escrevo poemas à sucapa, sou eu que olho para o cais da rocha conde de óbidos e sonho com viagens por mar, sou eu que às 18h solto o cabelo, respiro fundo e corro para casa, antecipando o prazer de ouvir no velho gira discos, Melanie, no Lp Candles in the Rain, Neil Damond, Jonathan Livingston Seagull, Carlos Paredes, Zeca Afonso, Sérgio Godinho, Carole King, Santana, Creedence Clearwater Revival, Procol Harum...

E enquanto leio a Mãe de Maximo Gorki sei que ainda espero um milagre...

Com a entrada para o Camões, à noite, no ano seguinte, volto a respirar e a soltar o cabelo, John Miles canta Music was my first love, nos furos vamos comer "cadelinhas", Supertramp inunda-nos com Hide in Your Shell e School, Lou Reed e Walk on the Wild Side... gosto de filosofia, na esplanada da infante santo, um árabe apaixona-se por mim e pensa em levar-me com ele, os colegas protegem-me e deixam-me à porta de casa, espanto-me com a escolta e de novo prendo os cabelos...

Já não sei quem sou.

Já não me lembro de quem era.

Aos fins de semana, procuro a praia ao por do sol e deito-me sozinha, ouvindo o mar.

Raramente encontro alguem na praia.

Namoro. Ele tinha os cabelos compridos mas cortou-os. Ambos estudamos à noite, o namoro faz-nos parecer mais crescidos, não nos queixamos de trabalhar tão novos, sei que estamos por fim domesticados, ele de cabelo cortado e eu às vezes de vestido.

Fala-me em casar. Namoramos há 4 anos e eu nunca posso sair à noite. Diz se cansado de sair sozinho. E eu cansada de estar fechada em casa. Sinto que perdemos a graça. Sinto-me prisioneira da vida que não construi.

Conto-lhe o meu sonho de menina: casar na pequena capela de S.João da Caparica, onde o sol incide de forma especial no altar durante a manhã e que o meu vestido fosse uma simples túnica branca...ele sorri...


Meses antes do casamento, chamam-nos doidos, ninguem é hippie para se casar com túnicas soltas, ninguem no casamento vai à praia...

Espero a força dele para, aliada à minha, vencermos.


Casamos em Setembro, ele de fato e eu de vestido de noiva.

Convencional, embora desenhado por mim.

Vinte anos depois entro no banco e o meu novo chefe, o martins, pergunta-me com os seus olhos azuis vivos: és retornada?

Fico sem perceber. -Retornada? penso, retornados devemos ser todos nós um pouco, uns retornam mais cedo e outros mais tarde...sorrio encarando-o...é que a tua forma de estar, aberta e sorridente, calorosa é caracteristica nossa, eu vim de angola...

-Ah!, não Martins, não sou retornada, mas realmente nao consigo ter um low profile...

ele pede desculpa logo de seguida percebendo o sarcasmo e o dia passa silencioso, entre papeis e teclas, pois ao contrario de nós, mais ninguem naquele departamento, possuía perfil de retornado...ao seu lado, trabalhava um senhor que muitos anos antes tinha sido esquecido no altar e que a partir daí nunca mais confiara em ninguém, ao meu lado, uma mulher bonita, casada com um frances que a visitava de 3 em 3 meses e a quem esse convivio, elevara para esferas bem mais altas de relacionamento...

Faço o curso de marinheiro e o Martins, que também percebe de navegações, faz-me perguntas testando-me...diz que eu percebo de tudo e que vou passar de certeza...e que já tinha descoberto... eu não era retornada mas sim....hippie!!!

Não consigo ficar séria olhando o seu rosto franco.


Abano.


Hippie.


Cabelos ao vento.

Túnica de cambraia, linho ou algodão.

Correr mundo. Ir à India.

Patcholi. Livres pensadores.


- Eu hippie? se visse os móveis pesadissimos da minha sala, os tapetes de arraiolos e os sofas verdes com bolinhas amarelas que lá tenho, não me chamaria hippie! Onde foi buscar essa ideia?


-Tu és hippie não queres é mostrar...

-Oh Martins, visto-me de forma convencional, uso mala, carteira, ponho verniz nas unhas, mas onde é que eu sou hippie?

-És hippie na forma de ser. E nos cabelos também!


Nesse dia trabalho muito e sempre com um sorriso interior que me ilumina os olhos e me leva a recordar a minha juventude...hippie...

Decido que um dia quando me reformar, vou respigar a hippie que existe em mim.



Tarde demais para o ser e nunca deixando de o ser, sei que não o fui, por simples falta de tempo.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Confesso que o ultimo mês, sem saber de ti, Pesseguinha, sem receber resposta aos e-mails curtos mas carinhosos e sorridentes que te enviei, me estava a preocupar.

Por fim, ontem, conseguimos encontrar-nos aqui, no msn, e matar um pouco as saudades, que continuam a ser recíprocas.

Nas novas fotos, encontro-te mais alta, o rosto, ja ganhou a sedução própria dos 15 anos, perdendo os traços infantis, com os quais nas minhas memórias recorrentes de saudades, ainda te vejo...

...embora nos últimos encontros virtuais que tivemos, não tivessemos falado desse sentmento que nos mantém ligadas, ontem, qum sabe levadas pela proximidade com as férias e com as memórias que nos inundam, centramos a nossa conversa nela...

Desarmas-me quando te confessas saudosa de tudo com um sorriso triste. QUando me perguntas ansiosa, pela mais nova da tribo, tribo que guardo no peito e da qual sempre farás parte.

Confesso-te que se não mudas de smile ainda me fazes chorar (e sem o saberes, lagrimas doces já se passeiam pelas minhas faces) e tu, sorris por fim, com esse sorriso lindo que guardo na memória para sempre.

Falas-me nas subidas dos montes, dos jogos de poker de dados, de sueca e de copas.

Éramos sempre parceiras.

E que gargalhada pegada, quando querendo fazer um poker de mão, dizíamos, erguendo-nos da cadeira: vai ser um póker de pé :)

Falamos das praias que descobrimos, dos mergulhos que demos, das travessias calmas no rio caldo ,de canoa, pagaiávamos bem as duas! das empatias que sentimos, da partilha de todos os sentimentos e inquietações que com um simples olhar descobríamos na outra.


Dos ensinamentos simples na cozinha. Vou-te ensinar a fazer o empadão que tanto gostas. E rio-me quando por causa da cebola, choras. Ensino-te: abres a torneira e deixas que a agua fria passe pelas mãos e pela faca e tb podes dar banho à cebola...


Explicas-me, porque se calhar julgas que tens que mo explicar: é que das três irmãs eu fui sempre a mais chegada a ti, não querendo parecer presunçosa.


Pessega querida, companheira inesqueível, tu nunca serás presunçosa, tens dentro de ti esse coração nobre e leal, das pessoas grandes, tens dentro de ti o equilibrio mágico que te faz ser e crescer e brilhar sem magoar ninguém, sem fazer mal a alguém.

Nunca terás necessidade de humilhar alguem para te sentires bem e vingada, sabe-se lá de quê.

Não tens em ti, qualquer maldade ou necesidade de maldade. E tens aquele sentido de humor, tão identico ao meu, que nos fazia desatar a rir de pequenos nadas, que aos outros passavam ao lado.

Apanhavamos borboletas e o caricato das situações tão rápido, que ninguém à nossa volta percebia nada.


Pergunto-te à queima roupa: já depilas as pernas? Ris e respondes vitoriosa: foi uma das conquistas deste ano que passou :-D
Faço com tiras de cera e não me doi nada!

Sortuda!

Os quatro anos que vivi, tendo-te por companheira, passaram rápido, miúda gira...

Mas foram cheios!

Venha quem vier, digo-te com olhos marejados, ninguem nos pode tirar o que vivemos, querida!

Temos recordações fantasticas, o mini cruzeiro em Lagos, o mergulho em alto mar, tu a sorrires à sombra da vela enfunada de vento e esperança, os matrecos, os natais, a neve, a ilha mágica, as casinhas de férias, as sandes de atum na praia, as costoletas de vitela barrosã, parecíamos umas selvagens, quando ao fim de um dia de caminhadas e mergulhos em lagoas paradisiacas com iogurtes, fruta e sandocas, nos sentavamos e nos serviam aquele petisco divinal!

As músicas que cantavamos desafinadas e de forma atribulada.

Os U2 na pedra bela, tu a cresceres e eu a gostar de te ver esquecida de borbulhas e pontos negros :)


As nossas conversas sérias, eu tentando explicar-te o que nem eu própria percebia bem, mas que queria aligeirar para ti, suavizar o peso, manter-te esperançosa e alegre, para não haver repercussões nos estudos ou nos cambiantes desse coração puro!


Dizes-me que tens de ir. Estás em casa da tia e vais jantar aos avós. É quarta feira.
Vocês à quarta feira vinham ca jantar e dormir, recordo.


Pedes-me: envia-me sms, vou para o algarve na sexta.

Prometo que sim. Despedimos-nos com sorrisos, beijos, abraços, a saudade que há de restar sempre.

Um adoro-te que vem de dentro, da identificação rápida quando um anjo se cruza connosco, a benção que foi conhecer-te.


Desconectas-te.


Sózinha, olhando um ecran sem vida, agora que te foste, fico a pensar no artigo sobre a felicidade.


Fugir de más relações é também "perder" pessoas incriveis.


Por muito que falemos, a vivência é diferente.


E como que movidas por um código de honra de que não precisamos falar, ha palavras que nunca mais dissemos.


Há pessoas intocáveis nas nossas conversas.


Sem presente ou futuro que possamos de novo vivenciar em partilha, respigamos o nosso passado, sabendo que alterámos o percurso de vida, uma da outra.


Sem mim não terias vivido todas aquelas experiências e eu, sem ti a meu lado, companheira e anjo da guarda, não teria decerto, suportado e acreditado que valia a pena tentar, durante tanto tempo!

Tens 15 anos, pessega querida e sabes o que eu sei.


Quando por fim me deste a conhecer ( e sei que só fizeste porque me vias desesperada) outras vivências silenciosas,



adoeci. E deste-me um conselho: tranca-te.



O último ensinamento foi como a chave deveria ser posta.



Tinhas aprendido com a tua mãe, anos antes.



Tens 15 anos, minha querida, depilas as pernas, és uma aluna brilhante e um ser humano extraordinário.


Que ninguem te desvie ou faça mudar!


Que ninguém ouse...

quarta-feira, 9 de julho de 2008

A vida vai torta

Jamais se endireita

O azar persegue

Esconde-se espreita

Nunca dei um passo

Que fosse correcto

Eu nunca fiz nada

Que batesse certo

E enquanto esperava

No fundo da rua

Pensava em ti

E em que sorte era a tua

Quero-te tanto

Quero-te tanto

De modo que a vida

um circo de feras

E os entretantos

So as minhas esperas

E enquanto esperava

No fundo da rua

Pensava em ti

E em que sorte era a tua

Quero-te tanto

Quero-te tanto.







Um dia, há poucos anos, dedicaram-me esta música dos xutos.





Eu sorria e conforme ia ouvindo, os meus alarmes começaram a soar.



Perdendo o sorriso e com todas as campainhas e apitos a ecoarem dentro de mim,

senti o chão a fugir sob os meus pés.



A sensação não era nova.



A descoberta que os passos errados de outrém nos pudessem levar a uma má sorte qualquer, já tinha sido feita uns anos antes, a infelicidade de não ter sabido detectar a tempo os indicios e os sinais, o sentimento esmagador de que era estupida a martelar-me o dia todo, a impossibilidade de resolver logo sem mais demoras os problemas de outros.


Porquê estas memórias hoje?


Porque estava eu, entre mergulhos, deitada ao sol, quando uma cigana se abeira de mim e me diz:

-Posso ler-lhe a sina, menina? A si que nunca teve sorte na vida...


Credo! Cruzes!

Fecho os olhos e abano negativamente a cabeça.


Phoniiiiiix!!! Será que tenho um 13 desenhado na testa??? :)

terça-feira, 8 de julho de 2008

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.


Já lá vai tempo em que, como um lagarto ao sol, ficava horas estendida na toalha, sobre as areias mais ou menos fofas de uma qualquer praia...


Nos últimos 10 anos, o estar na praia, significa que a água está aprazível e convidativa.


Pode estar um calor de estrelar ovos. Se eu estiver no mar, nadando, boiando ou dando mergulhos está-se bem...


Se pelo contrario, está gelada ou se tem aquelas ondas que apenas são benfazejas ao nosso estado de espirito, agarro na mochila e refugio-me numa das muitas esplanadas que felizmente as nossas praias vão tendo...com música...cadeiras convidativas à leitura...um café saboroso...


Ir à praia para mim deixou de ser o que era...



Mas foram, quase quase, quarenta anos de muita areia :)

domingo, 6 de julho de 2008

E com o meu regresso, o regresso da minhas actividades solitárias, mas não menos prazenteiras...


Embora tivesse programado a ida à praia, o vento levou com ele essa hipótese.


Assim, depois de almoço, vesti as calças de fato de treino e voltei ao formato "caminhada à beira mar"...como companhia, a Brincadeira de Milan Kundera, o seu primeiro livro e que eu nunca tinha lido. Devorei as primeiras 72 pag. sentada numa esplanada ao sol e dei comigo, enquanto fumava um cigarro, a pensar que no dia em que mudasse de concelho, iria decerto, muitas vezes ali voltar...

Animal de hábitos, depois de passada a apreensão dos primeiros tempos em que naquela caminhada pudessem acontecer encontros desnecessários, recomecei a usufruir do prazer que aquele paredão me oferece, a energia que retiro do oceano vivo, ali a bater tantas vezes a meus pés, do sol que demora a pôr-se em muitas das esplanadas existentes...

Recordo as minhas primeiras caminhadas, lentas e cansadas, quando há 4 anos me iniciei, depois de sair do banco...lembro a dor nos musculos entorpecidos...

Hoje em dia, principalmente desde o inicio deste ano, consigo faze-lo de seguida, passo dinâmico, olhar ausente ou fitando o horizonte, já confiante que não haverá qualquer encontro e já isenta de qualquer esforço ou pesar...

E não posso deixar de sorrir com as ironias do destino...quando saí da minha cidade há mais de vinte anos, senti a nostalgia de deixar aquelas ruas e agora que regresso a ela, sei que levarei a nostalgia, dos sítios que entretanto conheci...!


Não sei como em mim cabem tantos sabores, texturas e cores!

sábado, 5 de julho de 2008

E os quase 15 dias escorregaram entre os dedos como as areias onde me movia...


Dias cheios e preenchidos desde cedo, a alegria de ter uma mesa cheia, logo ao pequeno almoço, o aroma do pão quente, o sumo de laranja naturalmente doce, o café acabado de fazer, mas principalmente os risos e as conversas da minha neta...

Vê-la crescer.

Admira-la concentrada, no espectáculo de fim de ano do ballet, que tanta alegria trouxe à sua vida, ler e apreciar os seus trabalhos na escola e, quando por fim, já de férias, ouvi-la cantar, quando o sol nos expulsava das águas tépidas e nos remetia à penumbra da casinha de férias, para uma refeição leve e rápida...

Ver os seus progressos na natação, as primeiras três braçadas inseguras e ofegantes e no último dia, as suas vinte incansáveis braçadas, seguras e calmas, sem pirolitos ou medos...

Ao seu lado, mergulhar nas ondas meigas, sorrisos tatuados nos rostos, ensinar-lhe o impulso de pés que nos faz voar na sua crista, no segundo que antecede a sua rebentação...

Por dias, três gerações a confluirem na mesma onda, no mesmo abraço salgado, no mesmo fluxo de amor...

Rir-me quando a descobri, mais uma apreciadora da minha caldeirada de choco, quando a descubro leal e verdadeira no jogo do Uno e a vejo estratega nas suas jogadas...

Apreciar os seus desenhos, guarda-los entre as paginas de um livro que só tive disponibilidade de ler, quano no último dia, todos se foram e só restei eu e as malas já feitas, para no dia seguinte, zarpar também...

Enterneço-me ao vê-la dormir a meu lado...mistério de vida embalando o sono, prece de bençãos e protecção, a mão que desliza no seu corpito abandonado ao sonho, quem sabe de sereias ou de danças por inventar ou de músicas só para ela reservadas...

Ver o seu tom de pele, tão claro por natureza, ir suavemente escurecendo, os seus cabelos, cada vez mais louros de sol e sal...

Abro a carteira e revejo com olhos húmidos de emoção, a sua primeira foto, tão pequenina, nascida de sete meses, o dedo da enfermeira carinhosa, era tão maior que o seu rosto!

Na recordação, sinto ao de leve o cheiro a maresia que nesse dia já distante, a ria formosa me ofereceu, feito promessa de vida...


Adormeço quase sempre, já quase dia, cansada e feliz, estranho a cama, a almofada, os aromas dos detergentes que lavaram os lençóis, agarrada à ideia que tenho de despertar cedo, o pão quente espera-me, os croissants estaladiços vão-se num ápice, mais um dia cheio e completo aparece suavemente no horizonte...


Não fotografei um único pôr do sol...

Vivi-os quase todos dentro de água, na praia, na piscina ou na banheira e no entanto, tive todos os dias, a noção que o sol se escondia naquele exacto momento, que bastaria dar uns passos rápidos para o apanhar...mas nunca quis deixar de fazer o que fazia, para o fotografar...

Escrever e fotografar o pôr do sol são actividades, para mim, solitárias...

Terei todos os que a vida me conceder...

Nestes quase 15 dias, tive algo muito mais valioso: a partilha de vida com quem eu tanto amo e de quem estou separada por tantos kms...


E já penso: será que em Agosto conseguirei lá voltar? :)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Há 15 dias atrás, a minha amiga Prozac contou-me desanimada que o seu carro novo trazia o ar condicionado avariado. Dois dias depois, enquanto fazia uma breve pausa do desassossego das limpezas, encontrei-a por aqui no msn e perguntei se já tinha resolvido o problema.


Afinal não tinha havido problema; tinha sido ela que não o soubera ligar, carregar nos botões certos, na sequência certa. Fiquei assombrada como é que ela não tinha experimentado todas as possibilidades e o dera logo à partida, como avariado.


Passados poucos segundos de lhe ter dito isto, fez-se luz em mim.


A minha filosofia de vida, a tal que já tanto me lixou, é exactamente essa.


Experimentar todas as possibilidades para que algo funcione.

Investir tempo, criatividade e carinho para que algo "arranque".

Não admira, se por duas vezes, dei por goradas as minhas tentativas e expectativas.


Não admira se não deu certo.


Estavam mesmo avariadas!

Nunca me tinha passado pela cabeça, que as "coisas", pudessem estar, pura e simplesmente avariadas e sem conserto.


Regressei à arrecadação mais leve e com um sorriso estampado no rosto empoeirado.


Nesse dia, os sacos para os contentores, foram muitos e pesados.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

E depois de todos os papéis e de todas as memórias, ainda antes do infante tragado, que esse faz-se esperar com a ansiedade própria de qualquer descoberta, o pincel arriscando a cor incerta, o vestir de novo as madeiras, o reciclar, mas mais que isso, esta pacifica certeza, ao desbravar novas cores e novos céus, em cobaltos domesticados, roxos discretos de quem se fez de luto, a prata que se inventa quente, a da casa e a da lua, do marejar e das lantejoulas perdidas.

Missangas fugidias a quem o tempo roubará o brilho.


Ou a solidão.


Uma outra cousa qualquer, a que ainda não sei dar o nome.



E saber que quando tal suceder, bastará subir a rua e procurar uma nova tinta, na loja da esquina.



Como se a vida fosse apenas uma tela sedenta de cor.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

O que nos leva a sentir que queremos uma determinada casa?

O que nos leva a sentir que é "aquela"?

A situação geográfica, a exposição solar, a dimensão, o seu valor, mas...deve haver algo mais, quando existem várias, com estas determinantes em comum.

Talvez tenha algo, que à primeira visita nos escape e só depois com o tempo reconheçamos que foi "aquilo" que nos moveu, que nos fez avançar para a negociação.

Regressar a lisboa é um projecto antigo, umas vezes ímpossivel, outras adiável, porque só a mim a cidade dizia realmente alguma coisa, daí que me sinto feliz pela envergadura do meu projecto, agora que parece ter chegado o tempo da viabilidade.

E enquanto não está preto no branco, enquanto se trabalha no projecto, não posso deixar de recordar, os anos que passei diáriamente naquela rua, de regresso a casa, vinda de um dia de trabalho, desejando ter logo ali, o "meu destino", em linguagem de gps.

E enquanto a burocracia dita o tempo de espera e desenho um ba-gua de feng-shui sobre uma planta improvisada da casa desejada e descubro à distancia os seus pontos cardeais, as cores que farão dela uma casa feliz e equaciono as cores que levo desta, que também planeei feliz, não posso deixar de reflectir, quantas vezes viver, viver plenamente, nos faz cair e nos obriga a levantar, nos faz partir de novo em busca de um porto de abrigo e nos faz chegar a outros, que nunca estiveram assinalados nas nossas cartas marítimas...

E enquanto não chega o tempo da verdadeira mudança, deixo o pensamento à solta, enquanto as mãos, suas aliadas, trabalham com afinco, na reestruturação cristalina de passados e presentes...

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Há muito programada a limpeza e visita aos tesouros guardados ao longo de uma vida, congratulo-me por, desta feita, não ter adiado e ter posto mãos à tarefa.

Se por um lado, o preço de tal proeza, foi esta alergia ao pó que me pôs completamente k.o. durante 48 horas, por outro, ter tido o prazer de reler os bilhetinhos de amor oferecidos pelas minhas filhas, os seus desenhos para a mãmã, compensou-me sobejamente!


Os seus primeiros traços, as suas primeiras letras, os seus primeiros cadernos, um fio de prumo em livro, os contos de encantar e descobrir novas fronteiras.

A almofada bordada por mim com bonecos e o seu nome, para a minha mais dorminhoca, as "folhas queridas" da minha mais velha, que na altura com os seus 5 anos, coleccionava folhas de blocos com coelhos e ursinhos e ainda 15 calendários de 1988, cada um com o seu tema!


Por fim, saber que alguém quer receber os livros que tinha para oferecer, gostar de os imaginar num local público, onde quem quiser os pode ler e manusear; encontrar novos caminhos, para vidas de louça, que já não me pertencem...


Numa última caixa, descobrir o meu perfil astrologico traçado por Paulo Cardoso em 1994, e, ter que dar o braço a torcer, afinal acertou em tanto, se eu tivesse aceite o vaticinio, talvez tivesse podido mudar o rumo...


Sorrir com os postais enviados de meio mundo, outros tantos comprados por mim, de passagem por essas estradas, num último folego, vendo o resultado positivo dos últimos dias, guardo ainda as recordações de viagem, o desapego não é ainda total, tal como o malato nos diz, já fui ali tão feliz!

Ou talvez o desapego esteja em guardar essas mesmas recordações de viagens, por si mesmas, sem as associar às pessoas que na altura me acompanhavam e que o tempo veio a provar não serem merecedoras de mim, dos meus esforços, dos meus reforços e façanhas!


E depois de tudo limpo, saber que a 125 me espera, um infante de asfalto engolido num instante, o sorriso que adivinho na neta ao ver os desenhos e bilhetinhos escritos pela minha menina, agora sua mãe, o mar azul que me vai receber em mergulho, enganar a idade e ser de novo a miuda que não saía da água, esquecer as hérnias e de novo ajoelhar para fazer castelos de areia, que as sereias durante a noite, vão habitar...

sábado, 31 de maio de 2008

Sete rios em naufragio de papel

E é deste subterranico e de chão profundo que escreves,
deste rio antigo e resignado ao vento
que percorres o leito
e é dessa escrita d'água que te gravas.
Visto-te das paredes de papel das casas arquivadas na pasta dos anos e
lambes o papel encerrando a lacre
a quitação dos anos.
São sete os teus profanáveis anos para os sete rios que em mim transbordam
no rumo das paredes de papel.
Das casas de liso papel descreverás murmurantes memórias afundadas
em mim, rio.
descreverás tempo e em fim de rota, eu te descreverei juizo. final.
E os sete rios
lavarão
as quatro casas de papel
construídas em represa sagrada.
És gruta intemporal de um karma cumprido.
E o rio, este, denso e subterranico de onde escreves,
nas suas águas silenciosas,
guarda o alicerce de ferro que sobrevive à corrente da morte.
São sete os rios que te celebram
em naufragio de papel.
Já não tens senda que te contenha.

sábado, 24 de maio de 2008

efectivamente é assim.
nunca se consegue fintar o destino nem o irremediável.
sei o que sempre soube e por muito que me tivesse esforçado a aprender mais,
a inventar novas teorias,novos caminhos,
eles sempre me trouxeram de volta a mim.
sou destino e cais de chegada
enseada rochosa
estofo de maré
cansada.
efectivamente é assim.
e por muitas contas que faça aos metros quadrados
das minhas viagens
sei que é a este quarto ja minguante
que regressarei.
E por muitas janelas que arquitecte
na tentativa de um romance com o sol
por muitas portas
que desenhe
na esperança dos encontros com a lua
é sempre as estas quatro paredes
que regressarei.
poderei recriar os olhos
em plantas hipotéticas a 3D,
usar tintas de cores nunca vistas
matérias nobres e móveis de chill out spirit,
num mixt de nostalgia e evasao
mas é a este corpo que regressarei
e será sempre no vão de escada dos meus pensamentos
que farei a escritura dos meus dias.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Saí para ir comprar tabaco...quem sabe um dia regresse? :)

segunda-feira, 31 de março de 2008

Carta sem domicilio para envio

Talvez os "poetas" teimem em viver num mundo cor de rosa imaginário.

Lembro-me como te rias das minhas lentes cor de rosa.

Talvez sejam muitas vezes gozados por quem como tu, usa o poder.


Mas o que tu não sabias, é que a poesia também me dá forças para voar

quando tu, na mesma situação, cairias.

É que a poesia que transporto comigo

me dá a paz,

que para ti não passa de solidão, de gume afiado.

É que a poesia me permite -ainda- ver a beleza da vida para lá das rotinas que traçamos, tragamos.


Foi por isso que há muitos meses te enviei uma sms a dizer que eu, maga da minha vida, já tinha iniciado a caminhada e que por muitas que fossem as pedras, já nada me faria voltar atrás.

Tu, na tua cegueira de poder, nunca imaginaste ou suposeste o poder que a poesia também possui, embora de todo, antagónico ao teu.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Com o Natal a acontecer, decidi fazer cozido à portuguesa para o almoço de consoada.

Às vezes consigo surpreender-me até a mim.


Fui apenas prática: raramente tenho toda a minha familia sentada à minha volta!

Somos uma familia de nómadas.


Todos nós gostamos desse prato, rico, quente e de sabores mistos, mas cada uma de nós, eu e as mulheres que me pertencem, raramente o faz, por termos um núcleo demasiado pequeno para alimentar.

Além do mais, ainda sentia raiva por ter estado a cozinhar durante horas, um mês antes, um cozido à portuguesa, para alguém que não o quis provar.

Ao contrario da canção de Pedro Abrunhosa, que espera que alguém lhe leve os seus fantasmas, eu própria trato de exorcizar os meus.


Ninguém tem que levar com os nossos fantasmas.


Ainda numa onda de continuar a exorcizar, fiz uma mousse de chocolate deliciosa e uma baba de camelo leve e cremosa, que foi o culminar de uma overdose de actos de amor, como é, cozinhar.


Acendi as velas, as luzes, abri as garrafas de vinho tinto, maduro como eu.

Vivi o dia de Natal, como vivo todos os dias em que tenho a familia reunida.


O Natal é sempre que um homem quiser, acredito eu.