domingo, 13 de julho de 2008

6ª feira, a Prozac reservou a noite para mim.

Fiquei contente. Amiga de toda a vida (herdamos-nos à nascença), com um tempo super ocupado, mãe de dois filhos, raramente consegue tirar uma noite, para curtir os amigos.


Se eu nunca fui hippie por falta de tempo, ela foi-o, durante anos.

Foi, assumiu que era e aos 30 e tal anos, foi deixando de o ser, devagarinho e sem perceber que já não era...

O ter sido hippie para ela, é um manancial de histórias, de situações, de pessoas diferentes que foi encontrando ao longo de uma década, que lhe deram, aquela forma de ser diferente, aquela graça que passou a ser uma das suas caracteristicas...

Sem graça fica ela, quando, actualmente, encontra uma peça de roupa fora do sitio, uns pratos espalhados, umas migalhas no chão...também ela domesticada pela vida e pelas casas, pelos concretos e pelos cimentos, a pulso e com esforço, escandalizou-me quando, este inverno, ao convidá-la para vir comigo fazer uma caminhada à beira mar, me respondeu que era coisa que não a seduzia, que só gostava de andar na cidade, na correria do dia a dia.
Que era decididamente uma mulher de asfalto.

E 6 feira, la fomos pelo asfalto, até à Fab.Polvora, beber um café ao som da Orquestra Sete sois e sete luas, com a alegria de termos também, ao nosso lado, o seu amigo C., que eu ja não via há séculos!

Mantêm-se igual o C., afável e conversador, sem reservas e sincero, nos seus quarenta e tal anos joviais, que me disse logo, estás mais magra e não te fica bem, conto-lhe das caminhadas e explico que não faço nada para emagrecer, como que nem uma "selvagem" à noite, todas as noites saio vencedora da guerra com o chocolate, que cai no meu estomago, completamente aniquilado, literalmente mastigado por mim.

Ele ri-se e encolhendo-se de frio com a aragem do vento, convido-os a descerem e a continuarmos a conversa em minha casa, afinal ele nunca cá tinha vindo!

Admira-se com as áreas, cai de joelhos aos pés do piano, não ha ninguem que não goste dele, do piano e do "C", que me diz "quando mudares vais sentir a diferença" e eu confirmo-lhe que sim, que adoro o sitio e acordar com os passaros, ver os melros voarem e as andorinhas chegarem, ouvir o murmurio da ribeira e estar a minutos do mar, mas que também vou gostar do outro lado da liberdade, a da cidade, dos cinemas a dois passos e do yoga a 4 ou 5 quarteirões, rindo-me, confesso-lhe esta minha ambiguidade de sempre, os dois sentidos que embora divergentes, em mim se mantêm paralelos, o ser hippie por dentro e por fora usar um tailleur, o ser "certinha" por dentro e por fora manter um cabelo solto e desalinhado...

Ele percebe o quero dizer, lembra-se de mim, anos antes, com uma nuvem na cabeça ou com a cabeça nas nuvens, a vida a explodir em todos os sentidos e eu a implodir na ambiguidade de ser assim, hippie e certinha, tailleur por fora e túnica de algodão doce, por dentro.

Quem me vê hippie admira-se com a mulher de principios pluralistas, quem me vê pragmática espanta-se com a livre pensadora.

Conto-lhes que quando mudar, vou continuar a vir cá, vou organizar a minha semana de forma a satisfazer todas as frentes do fogo que me consome, a eremita e a que não se quer isolar, a pensativa e a que gosta de estar com os amigos, a fragil e a forte, a sonhadora e a que se não deixa enganar (muito).


A que se entrega e a que mantem um plano B, a que chorou porque não queria sentir a obrigatoriedade de ter um plano B para a vida e a que se sentiu feliz por ter um plano B para pôr em marcha, a que escreve e a que não liga aos seus escritos, a que ama e a que deixa de amar, quando não encontra lógica no amor que a guia.


A que neste momento diz, está na hora de te banhares e a outra, a outra que dentro de si, sente as palavras, sem quase pausa, brotarem dentro de si.

Mas ambas são uma apenas. Eu.

Espero ter a arte de saber fazer crescer una e em harmonia esta massa de ambiguidades de que sou feita...

2 comentários:

Eme disse...

os dois posts de rajada

diário de uma mulher livre

está-te nas veias

Oh tu! podes voar, lembra-te disso.

beijo

Marginal disse...

Ai M., desejo o vôo.


Mas enquanto as coisas não acontecerem, enquanto as asas "aqui" estiverem, sinto-me retida...


A "burocracia" das asas :)

O tempo de des-contrução.