sábado, 5 de julho de 2008

E os quase 15 dias escorregaram entre os dedos como as areias onde me movia...


Dias cheios e preenchidos desde cedo, a alegria de ter uma mesa cheia, logo ao pequeno almoço, o aroma do pão quente, o sumo de laranja naturalmente doce, o café acabado de fazer, mas principalmente os risos e as conversas da minha neta...

Vê-la crescer.

Admira-la concentrada, no espectáculo de fim de ano do ballet, que tanta alegria trouxe à sua vida, ler e apreciar os seus trabalhos na escola e, quando por fim, já de férias, ouvi-la cantar, quando o sol nos expulsava das águas tépidas e nos remetia à penumbra da casinha de férias, para uma refeição leve e rápida...

Ver os seus progressos na natação, as primeiras três braçadas inseguras e ofegantes e no último dia, as suas vinte incansáveis braçadas, seguras e calmas, sem pirolitos ou medos...

Ao seu lado, mergulhar nas ondas meigas, sorrisos tatuados nos rostos, ensinar-lhe o impulso de pés que nos faz voar na sua crista, no segundo que antecede a sua rebentação...

Por dias, três gerações a confluirem na mesma onda, no mesmo abraço salgado, no mesmo fluxo de amor...

Rir-me quando a descobri, mais uma apreciadora da minha caldeirada de choco, quando a descubro leal e verdadeira no jogo do Uno e a vejo estratega nas suas jogadas...

Apreciar os seus desenhos, guarda-los entre as paginas de um livro que só tive disponibilidade de ler, quano no último dia, todos se foram e só restei eu e as malas já feitas, para no dia seguinte, zarpar também...

Enterneço-me ao vê-la dormir a meu lado...mistério de vida embalando o sono, prece de bençãos e protecção, a mão que desliza no seu corpito abandonado ao sonho, quem sabe de sereias ou de danças por inventar ou de músicas só para ela reservadas...

Ver o seu tom de pele, tão claro por natureza, ir suavemente escurecendo, os seus cabelos, cada vez mais louros de sol e sal...

Abro a carteira e revejo com olhos húmidos de emoção, a sua primeira foto, tão pequenina, nascida de sete meses, o dedo da enfermeira carinhosa, era tão maior que o seu rosto!

Na recordação, sinto ao de leve o cheiro a maresia que nesse dia já distante, a ria formosa me ofereceu, feito promessa de vida...


Adormeço quase sempre, já quase dia, cansada e feliz, estranho a cama, a almofada, os aromas dos detergentes que lavaram os lençóis, agarrada à ideia que tenho de despertar cedo, o pão quente espera-me, os croissants estaladiços vão-se num ápice, mais um dia cheio e completo aparece suavemente no horizonte...


Não fotografei um único pôr do sol...

Vivi-os quase todos dentro de água, na praia, na piscina ou na banheira e no entanto, tive todos os dias, a noção que o sol se escondia naquele exacto momento, que bastaria dar uns passos rápidos para o apanhar...mas nunca quis deixar de fazer o que fazia, para o fotografar...

Escrever e fotografar o pôr do sol são actividades, para mim, solitárias...

Terei todos os que a vida me conceder...

Nestes quase 15 dias, tive algo muito mais valioso: a partilha de vida com quem eu tanto amo e de quem estou separada por tantos kms...


E já penso: será que em Agosto conseguirei lá voltar? :)

5 comentários:

Eme disse...

Vida em cheio´! assim é que é.
cada palmo saboreado.
cada olhar, canto e sorriso.

e voltas lá em Agosto sim. O Infante espera-te sempre.

beijos

Alien8 disse...

Vanda,

Que maravilhosos 15 dias e que magnífica neta :)

Parece que dormiste pouco... coisa que eu raramente consigo fazer...

Excelente o teu post, respira alegria, felicidade e ternura - e, como se não bastasse, anda por lá uma caldeirada de chocos que já me está a fazer crescer água na boca, e a estas horas tardias!

Haja ceia! E haverá!

Um beijo.

Marginal disse...

M., doce M.,


O Infante espera-me sim, mas há tanto "trabalho" pela frente, nos proximos 2 meses!!!

Um pouco assustador.

Há-de se fazer tudo.


Venham as pilhas duracell e que as hérnias aguentem :)

Marginal disse...

Alien,


obrigada :)


Espero que a ceia te tenha caído que nem ginjas! ;)

Pena que as ceias contribuam para o colesterol :(


Não consegues dormir muito?


Ou não consegues deixar de dormir muito? :)

Alien8 disse...

Vanda,

O meu colesterol está muito bom. Valha-me isso!

Não consigo dormir muito (de cada vez), não adormeço facilmente, nem consigo deixar de dormir o suficiente (não muito, mas muito menos pouco). Será que fui claro? Não me parece, eheheh!

Um beijo.