quarta-feira, 11 de junho de 2008

Há muito programada a limpeza e visita aos tesouros guardados ao longo de uma vida, congratulo-me por, desta feita, não ter adiado e ter posto mãos à tarefa.

Se por um lado, o preço de tal proeza, foi esta alergia ao pó que me pôs completamente k.o. durante 48 horas, por outro, ter tido o prazer de reler os bilhetinhos de amor oferecidos pelas minhas filhas, os seus desenhos para a mãmã, compensou-me sobejamente!


Os seus primeiros traços, as suas primeiras letras, os seus primeiros cadernos, um fio de prumo em livro, os contos de encantar e descobrir novas fronteiras.

A almofada bordada por mim com bonecos e o seu nome, para a minha mais dorminhoca, as "folhas queridas" da minha mais velha, que na altura com os seus 5 anos, coleccionava folhas de blocos com coelhos e ursinhos e ainda 15 calendários de 1988, cada um com o seu tema!


Por fim, saber que alguém quer receber os livros que tinha para oferecer, gostar de os imaginar num local público, onde quem quiser os pode ler e manusear; encontrar novos caminhos, para vidas de louça, que já não me pertencem...


Numa última caixa, descobrir o meu perfil astrologico traçado por Paulo Cardoso em 1994, e, ter que dar o braço a torcer, afinal acertou em tanto, se eu tivesse aceite o vaticinio, talvez tivesse podido mudar o rumo...


Sorrir com os postais enviados de meio mundo, outros tantos comprados por mim, de passagem por essas estradas, num último folego, vendo o resultado positivo dos últimos dias, guardo ainda as recordações de viagem, o desapego não é ainda total, tal como o malato nos diz, já fui ali tão feliz!

Ou talvez o desapego esteja em guardar essas mesmas recordações de viagens, por si mesmas, sem as associar às pessoas que na altura me acompanhavam e que o tempo veio a provar não serem merecedoras de mim, dos meus esforços, dos meus reforços e façanhas!


E depois de tudo limpo, saber que a 125 me espera, um infante de asfalto engolido num instante, o sorriso que adivinho na neta ao ver os desenhos e bilhetinhos escritos pela minha menina, agora sua mãe, o mar azul que me vai receber em mergulho, enganar a idade e ser de novo a miuda que não saía da água, esquecer as hérnias e de novo ajoelhar para fazer castelos de areia, que as sereias durante a noite, vão habitar...

3 comentários:

Lola disse...

O passado revisitado, mesmo com alergias à mistura, é sempre um mundo a redescobrir com emoção.

Deste-me ideias.

Mas as caixas da minha memória andam perdidas em vários portos e será difícil (não impossível) recuperá-las.

Beijos grandes e boas férias.

Alien8 disse...

Olá, Marginal!

Hoje venho aqui...
Também eu gosto de recordar através de objectos, velhos papéis que ainda não desapareceram, coisas inesperadas, algumas delas já há muito tempo fora da memória...

Apesar da alergia ao pó, parece-me que passaste um excelente tempinho...

A casa nova é uma espécie de reverso da medalha, o futuro, mas... um futuro com passado e presente. Por via disso, tenho que deixar aqui algo a que, em outro qualquer comentário (ou resposta...) aludi "subtilmente":

Margem de certa maneira

Dentro da margem de dentro
na raíz e no lamento
guarda-vento e ribanceira
margem de certa maneira
de fazer uma viagem
de ultrapassar a barreira
fazer do vento poeira
da ribanceira barragem

Fora da margem de dentro
entre o caule e o rebento
há sempre um pequeno espaço
entre movimento e passo
entre passo e movimento
a corda que faz o laço
a força que faz o braço
acordar o pensamento

Escorrego na lama do meu passado
do meu passado-presente
mas não fico na lama desnorteado
vou ao fundo da lama do outro lado
do outro lado da mente
do outro lado da gente
do lado da gente do outro lado
do lado da gente que vive de frente
da gente que vive o futuro-presente

Fora da margem de fora
fica a sombra e a demora
a voz do vento é mudança
muda o escudo fica a lança
sem medida para agora
saltam pulgas na balança
pára o vento vira a dança
no espaço de uma hora

Dentro da margem de fora
não há sombra na demora
estatelada na história
fica a margem divisória
e no meio da viagem
a voz do vento é memória
de acreditar na vitória
de rebentar a barragem

Escorregas na lama do teu passado
do teu passado-presente
Mas não ficas na lama desnorteado
vais ao fundo da lama do outro lado
do outro lado da mente
do outro lado da gente
do lado da gente do outro lado
do lado da gente que vive de frente
da gente que vive o futuro-presente

(José Mário Branco)


E pronto. Creio que vais gostar de reler, quem sabe de ouvir de novo? :)

Beijos.

Eme disse...

O baú!! devemos sempre ter um baú. algumas coisas doem apesar de tudo quando relembradas mas são lições de vida. e importa olharpara trás sempre sem remorsos o que também nem sempre acontece.
Beijo ao Infante e que te leve até aos caminhos onde as pedras te beijam.

e aposto que já regressaste

beijo para ti