E os quase 15 dias escorregaram entre os dedos como as areias onde me movia...
Dias cheios e preenchidos desde cedo, a alegria de ter uma mesa cheia, logo ao pequeno almoço, o aroma do pão quente, o sumo de laranja naturalmente doce, o café acabado de fazer, mas principalmente os risos e as conversas da minha neta...
Vê-la crescer.
Admira-la concentrada, no espectáculo de fim de ano do ballet, que tanta alegria trouxe à sua vida, ler e apreciar os seus trabalhos na escola e, quando por fim, já de férias, ouvi-la cantar, quando o sol nos expulsava das águas tépidas e nos remetia à penumbra da casinha de férias, para uma refeição leve e rápida...
Ver os seus progressos na natação, as primeiras três braçadas inseguras e ofegantes e no último dia, as suas vinte incansáveis braçadas, seguras e calmas, sem pirolitos ou medos...
Ao seu lado, mergulhar nas ondas meigas, sorrisos tatuados nos rostos, ensinar-lhe o impulso de pés que nos faz voar na sua crista, no segundo que antecede a sua rebentação...
Por dias, três gerações a confluirem na mesma onda, no mesmo abraço salgado, no mesmo fluxo de amor...
Rir-me quando a descobri, mais uma apreciadora da minha caldeirada de choco, quando a descubro leal e verdadeira no jogo do Uno e a vejo estratega nas suas jogadas...
Apreciar os seus desenhos, guarda-los entre as paginas de um livro que só tive disponibilidade de ler, quano no último dia, todos se foram e só restei eu e as malas já feitas, para no dia seguinte, zarpar também...
Enterneço-me ao vê-la dormir a meu lado...mistério de vida embalando o sono, prece de bençãos e protecção, a mão que desliza no seu corpito abandonado ao sonho, quem sabe de sereias ou de danças por inventar ou de músicas só para ela reservadas...
Ver o seu tom de pele, tão claro por natureza, ir suavemente escurecendo, os seus cabelos, cada vez mais louros de sol e sal...
Abro a carteira e revejo com olhos húmidos de emoção, a sua primeira foto, tão pequenina, nascida de sete meses, o dedo da enfermeira carinhosa, era tão maior que o seu rosto!
Na recordação, sinto ao de leve o cheiro a maresia que nesse dia já distante, a ria formosa me ofereceu, feito promessa de vida...
Adormeço quase sempre, já quase dia, cansada e feliz, estranho a cama, a almofada, os aromas dos detergentes que lavaram os lençóis, agarrada à ideia que tenho de despertar cedo, o pão quente espera-me, os croissants estaladiços vão-se num ápice, mais um dia cheio e completo aparece suavemente no horizonte...
Não fotografei um único pôr do sol...
Vivi-os quase todos dentro de água, na praia, na piscina ou na banheira e no entanto, tive todos os dias, a noção que o sol se escondia naquele exacto momento, que bastaria dar uns passos rápidos para o apanhar...mas nunca quis deixar de fazer o que fazia, para o fotografar...
Escrever e fotografar o pôr do sol são actividades, para mim, solitárias...
Terei todos os que a vida me conceder...
Nestes quase 15 dias, tive algo muito mais valioso: a partilha de vida com quem eu tanto amo e de quem estou separada por tantos kms...
E já penso: será que em Agosto conseguirei lá voltar? :)
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5 comentários:
Vida em cheio´! assim é que é.
cada palmo saboreado.
cada olhar, canto e sorriso.
e voltas lá em Agosto sim. O Infante espera-te sempre.
beijos
Vanda,
Que maravilhosos 15 dias e que magnífica neta :)
Parece que dormiste pouco... coisa que eu raramente consigo fazer...
Excelente o teu post, respira alegria, felicidade e ternura - e, como se não bastasse, anda por lá uma caldeirada de chocos que já me está a fazer crescer água na boca, e a estas horas tardias!
Haja ceia! E haverá!
Um beijo.
M., doce M.,
O Infante espera-me sim, mas há tanto "trabalho" pela frente, nos proximos 2 meses!!!
Um pouco assustador.
Há-de se fazer tudo.
Venham as pilhas duracell e que as hérnias aguentem :)
Alien,
obrigada :)
Espero que a ceia te tenha caído que nem ginjas! ;)
Pena que as ceias contribuam para o colesterol :(
Não consegues dormir muito?
Ou não consegues deixar de dormir muito? :)
Vanda,
O meu colesterol está muito bom. Valha-me isso!
Não consigo dormir muito (de cada vez), não adormeço facilmente, nem consigo deixar de dormir o suficiente (não muito, mas muito menos pouco). Será que fui claro? Não me parece, eheheh!
Um beijo.
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