quinta-feira, 19 de junho de 2008

Há 15 dias atrás, a minha amiga Prozac contou-me desanimada que o seu carro novo trazia o ar condicionado avariado. Dois dias depois, enquanto fazia uma breve pausa do desassossego das limpezas, encontrei-a por aqui no msn e perguntei se já tinha resolvido o problema.


Afinal não tinha havido problema; tinha sido ela que não o soubera ligar, carregar nos botões certos, na sequência certa. Fiquei assombrada como é que ela não tinha experimentado todas as possibilidades e o dera logo à partida, como avariado.


Passados poucos segundos de lhe ter dito isto, fez-se luz em mim.


A minha filosofia de vida, a tal que já tanto me lixou, é exactamente essa.


Experimentar todas as possibilidades para que algo funcione.

Investir tempo, criatividade e carinho para que algo "arranque".

Não admira, se por duas vezes, dei por goradas as minhas tentativas e expectativas.


Não admira se não deu certo.


Estavam mesmo avariadas!

Nunca me tinha passado pela cabeça, que as "coisas", pudessem estar, pura e simplesmente avariadas e sem conserto.


Regressei à arrecadação mais leve e com um sorriso estampado no rosto empoeirado.


Nesse dia, os sacos para os contentores, foram muitos e pesados.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

E depois de todos os papéis e de todas as memórias, ainda antes do infante tragado, que esse faz-se esperar com a ansiedade própria de qualquer descoberta, o pincel arriscando a cor incerta, o vestir de novo as madeiras, o reciclar, mas mais que isso, esta pacifica certeza, ao desbravar novas cores e novos céus, em cobaltos domesticados, roxos discretos de quem se fez de luto, a prata que se inventa quente, a da casa e a da lua, do marejar e das lantejoulas perdidas.

Missangas fugidias a quem o tempo roubará o brilho.


Ou a solidão.


Uma outra cousa qualquer, a que ainda não sei dar o nome.



E saber que quando tal suceder, bastará subir a rua e procurar uma nova tinta, na loja da esquina.



Como se a vida fosse apenas uma tela sedenta de cor.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

O que nos leva a sentir que queremos uma determinada casa?

O que nos leva a sentir que é "aquela"?

A situação geográfica, a exposição solar, a dimensão, o seu valor, mas...deve haver algo mais, quando existem várias, com estas determinantes em comum.

Talvez tenha algo, que à primeira visita nos escape e só depois com o tempo reconheçamos que foi "aquilo" que nos moveu, que nos fez avançar para a negociação.

Regressar a lisboa é um projecto antigo, umas vezes ímpossivel, outras adiável, porque só a mim a cidade dizia realmente alguma coisa, daí que me sinto feliz pela envergadura do meu projecto, agora que parece ter chegado o tempo da viabilidade.

E enquanto não está preto no branco, enquanto se trabalha no projecto, não posso deixar de recordar, os anos que passei diáriamente naquela rua, de regresso a casa, vinda de um dia de trabalho, desejando ter logo ali, o "meu destino", em linguagem de gps.

E enquanto a burocracia dita o tempo de espera e desenho um ba-gua de feng-shui sobre uma planta improvisada da casa desejada e descubro à distancia os seus pontos cardeais, as cores que farão dela uma casa feliz e equaciono as cores que levo desta, que também planeei feliz, não posso deixar de reflectir, quantas vezes viver, viver plenamente, nos faz cair e nos obriga a levantar, nos faz partir de novo em busca de um porto de abrigo e nos faz chegar a outros, que nunca estiveram assinalados nas nossas cartas marítimas...

E enquanto não chega o tempo da verdadeira mudança, deixo o pensamento à solta, enquanto as mãos, suas aliadas, trabalham com afinco, na reestruturação cristalina de passados e presentes...

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Há muito programada a limpeza e visita aos tesouros guardados ao longo de uma vida, congratulo-me por, desta feita, não ter adiado e ter posto mãos à tarefa.

Se por um lado, o preço de tal proeza, foi esta alergia ao pó que me pôs completamente k.o. durante 48 horas, por outro, ter tido o prazer de reler os bilhetinhos de amor oferecidos pelas minhas filhas, os seus desenhos para a mãmã, compensou-me sobejamente!


Os seus primeiros traços, as suas primeiras letras, os seus primeiros cadernos, um fio de prumo em livro, os contos de encantar e descobrir novas fronteiras.

A almofada bordada por mim com bonecos e o seu nome, para a minha mais dorminhoca, as "folhas queridas" da minha mais velha, que na altura com os seus 5 anos, coleccionava folhas de blocos com coelhos e ursinhos e ainda 15 calendários de 1988, cada um com o seu tema!


Por fim, saber que alguém quer receber os livros que tinha para oferecer, gostar de os imaginar num local público, onde quem quiser os pode ler e manusear; encontrar novos caminhos, para vidas de louça, que já não me pertencem...


Numa última caixa, descobrir o meu perfil astrologico traçado por Paulo Cardoso em 1994, e, ter que dar o braço a torcer, afinal acertou em tanto, se eu tivesse aceite o vaticinio, talvez tivesse podido mudar o rumo...


Sorrir com os postais enviados de meio mundo, outros tantos comprados por mim, de passagem por essas estradas, num último folego, vendo o resultado positivo dos últimos dias, guardo ainda as recordações de viagem, o desapego não é ainda total, tal como o malato nos diz, já fui ali tão feliz!

Ou talvez o desapego esteja em guardar essas mesmas recordações de viagens, por si mesmas, sem as associar às pessoas que na altura me acompanhavam e que o tempo veio a provar não serem merecedoras de mim, dos meus esforços, dos meus reforços e façanhas!


E depois de tudo limpo, saber que a 125 me espera, um infante de asfalto engolido num instante, o sorriso que adivinho na neta ao ver os desenhos e bilhetinhos escritos pela minha menina, agora sua mãe, o mar azul que me vai receber em mergulho, enganar a idade e ser de novo a miuda que não saía da água, esquecer as hérnias e de novo ajoelhar para fazer castelos de areia, que as sereias durante a noite, vão habitar...