sábado, 31 de maio de 2008

Sete rios em naufragio de papel

E é deste subterranico e de chão profundo que escreves,
deste rio antigo e resignado ao vento
que percorres o leito
e é dessa escrita d'água que te gravas.
Visto-te das paredes de papel das casas arquivadas na pasta dos anos e
lambes o papel encerrando a lacre
a quitação dos anos.
São sete os teus profanáveis anos para os sete rios que em mim transbordam
no rumo das paredes de papel.
Das casas de liso papel descreverás murmurantes memórias afundadas
em mim, rio.
descreverás tempo e em fim de rota, eu te descreverei juizo. final.
E os sete rios
lavarão
as quatro casas de papel
construídas em represa sagrada.
És gruta intemporal de um karma cumprido.
E o rio, este, denso e subterranico de onde escreves,
nas suas águas silenciosas,
guarda o alicerce de ferro que sobrevive à corrente da morte.
São sete os rios que te celebram
em naufragio de papel.
Já não tens senda que te contenha.

sábado, 24 de maio de 2008

efectivamente é assim.
nunca se consegue fintar o destino nem o irremediável.
sei o que sempre soube e por muito que me tivesse esforçado a aprender mais,
a inventar novas teorias,novos caminhos,
eles sempre me trouxeram de volta a mim.
sou destino e cais de chegada
enseada rochosa
estofo de maré
cansada.
efectivamente é assim.
e por muitas contas que faça aos metros quadrados
das minhas viagens
sei que é a este quarto ja minguante
que regressarei.
E por muitas janelas que arquitecte
na tentativa de um romance com o sol
por muitas portas
que desenhe
na esperança dos encontros com a lua
é sempre as estas quatro paredes
que regressarei.
poderei recriar os olhos
em plantas hipotéticas a 3D,
usar tintas de cores nunca vistas
matérias nobres e móveis de chill out spirit,
num mixt de nostalgia e evasao
mas é a este corpo que regressarei
e será sempre no vão de escada dos meus pensamentos
que farei a escritura dos meus dias.